Capítulo III Uma calma admirável invadia o mundo, e as estrelas e a serenidade dos seus raios pareciam derramar sobre a Terra a certeza de uma segurança eterna. A lua nova recurvada, brilhando baixo, a oeste, era como uma fina apara cortada numa barra de ouro e atirada ao ar, e o mar Arábico, liso e fresco para a vista como um lençol de gelo, alargava a sua superfície perfeitamente plana até ao círculo perfeito do horizonte escuro. A hélice girava regularmente, como se o ritmo das suas pancadas fizesse parte do plano de um universo sem perigos; de cada lado do Patna, a água formava duas pregas profundas, estáveis e sombrias na superfície lisa na ténue claridade, que encerravam dentro das suas arestas rectas e divergentes alguns torvelinhos de espuma branca que rebentavam com um silvo abafado, ondas miniaturais, pequenas encrespaduras e ondulações, que, uma vez deixadas para trás, agitavam a superfície do mar durante um momento depois da passagem do barco, diminuíam com um leve esparrinhar e, finalmente, desapareciam na redonda tranquilidade da água e do céu com a mancha negra do casco do navio a avançar eternamente no seu centro.
Jim, na ponte, sentia-se penetrado por uma grande certeza de segurança e paz ilimitadas, que se podia ler no aspecto silencioso da natureza como se lê a certeza de um amor acalentador na expressão de ternura serena de um rosto de mãe. Sob o abrigo formado pelos toldos, entregues à prudência dos homens brancos e à sua coragem, confiantes no poder da sua incredulidade e no armamento dos seus navios, os peregrinos, de uma fé exigente, dormiam deitados sobre esteiras, sobre cobertores, sobre tábuas nuas, nos vários convés, em todos os cantos escuros, embrulhados em panos tintos, envoltos em farrapos sujos, com as cabeças apoiadas para descansar, em pequenas trouxas, com os rostos comprimidos contra os braços dobrados; os homens, as mulheres, as crianças; os velhos com os novos, os decrépitos com os robustos - todos iguais no sono, irmão da morte.