Capítulo XXXIV Marlow estendeu as pernas, levantou-se rapidamente, um pouco cambaleante, como se tivesse caído no chão depois de um salto no espaço. Encostou-se à balaustrada e encarou a fila desordenada das cadeiras de verga. Os corpos prostrados pareceram despertar do seu torpor com este movimento. Um ou dois endireitaram-se como que alarmados; aqui e ali ainda brilhava a brasa de um charuto; Marlow olhou para todos eles com os olhos de um homem que voltasse dos abismos insondáveis de um sonho. Ouviu-se alguém tossir; uma voz calma lançou um encorajamento num tom negligente: «E depois?»
«Nada», disse Marlow com um ligeiro sobressalto. «Ele contara-lhe a história e ela não a acreditava. Quanto a mim, não sabia se seria justo, correcto, decente, regozijar-me ou entristecer-me. Por minha parte, não sei dizer em que acreditava... De facto, ainda hoje não o sei e provavelmente nunca o saberei. Mas em que é que aquele pobre diabo acreditava? A verdade acaba sempre por triunfar... Não sabem que Magna est veritas et... Sim, se lhe dermos uma oportunidade. Há sem dúvida uma lei - mas é uma lei que também regula a sorte dos jogadores de dados. Não é a Justiça, a serva dos homens, mas o acidental, o acaso, a Sorte - aliada do Tempo paciente -, que mantêm um equilíbrio justo e escrupuloso. Ambos tínhamos dito a mesma coisa. Dissemos ambos a verdade... ou um de nós, ou nenhum a disse?... »
Marlow fez uma pausa, cruzou os braços em frente do peito e continuou num tom diferente:
«Ela disse que nós mentíamos. Pobre rapariga... Pois bem, entreguemo-nos à sorte, cujo aliado é o Tempo, que não pode ser acelerado, e cuja inimiga é a Morte, que não espera. Eu batia em retirada, um pouco desencorajado, devo confessá-lo.