Capítulo I Faltava-lhe uma polegada, ou talvez duas, para medir seis pés, era de compleição vigorosa e avançava direito sobre as pessoas, com um ligeiro curvar dos ombros, com a cabeça para a frente e uma maneira de olhar por baixo, com os olhos fixos, que lembrava um touro a carregar. Tinha uma voz profunda, sonora, e os seus modos revelavam uma espécie de afirmação obstinada de si mesmo em que não havia agressividade. Parecia ser-lhe necessária e impunha-a a si próprio e aos outros.
De um asseio imaculado, vestido de branco dos pés à cabeça, era muito popular nos vários panos orientais, onde ganhava a sua vida como corretor dos armazéns de provisões para navios.
A um corretor destes armazéns não são exigidos exames seja sobre que matéria for, mas tem de ser dotado de esperteza em abstracto e de a demonstrar na prática. O seu trabalho consiste em bater em velocidade, numa corrida à vela, a vapor ou a remos, qualquer outro corretor, cada vez que um navio se prepara para lançar a âncora, cumprimentar jovialmente o capitão, meter-lhe na mão à força um bilhete de visita - o do dono do armazém -, e logo que ele venha a terra guiá-lo com firmeza mas sem ostentação para uma vasta loja com ar de caverna, cheia de tudo o que se come e se bebe a bordo, onde se pode encontrar o necessário para aparelhar e embelezar um barco, desde um jogo de ganchos para a corrente do calabre até à folha de ouro para dourar a talha que ornamenta a popa, e onde esse comandante é recebido como um irmão por um fornecedor de navios que nunca vira antes. Há uma sala fresca, cadeirões, garrafas, charutos, tudo o que é preciso para escrever, uma cópia dos regulamentos do porto e um calor, uma cordialidade no acolhimento, que dissolve o sal depositado no coração do marinheiro por uma viagem de três meses.