Capítulo XVII «Acabou por entrar, mas creio que foi principalmente por causa da chuva que caía naquele momento com uma violência inaudita, mas que abrandou gradualmente enquanto falávamos. A atitude de Jim era calma e firme, o seu comportamento o de um homem naturalmente taciturno dominado por uma ideia. Eu falava do lado material da questão, tinha apenas em mente salvá-lo da degradação, da ruína e do desespero que se apossam tão facilmente de um homem sem amigos e sem lar. Pedi-lhe que aceitasse a minha ajuda. Eu falava com moderação, e todas as vezes que levantava os olhos para o seu rosto absorto, tão grave e tão juvenil, sentia-me perturbado pela ideia de não lhe servir de ajuda, mas de obstáculo, a uma tentativa do seu espírito magoado, misteriosa, inexplicável e impalpável.
«Lembro-me de lhe ter dito com irritação: 'Suponho que tem a intenção de comer, beber e dormir debaixo de telha, como toda a gente. Diz que não pensa tocar no dinheiro do ordenado.'... Fez um gesto quase de horror. (Deviam-lhe três semanas e cinco dias de ordenado como imediato do Patna.) 'Bem, é uma quantia insignificante; mas que vai fazer amanhã? Para onde quer ir? Tem de viver... ' 'A questão não é essa', foram as palavras que pronunciou, em voz baixa. Fiz que não ouvi e continuei a combater o que julgava serem escrúpulos de uma delicadeza de consciência exagerada. 'Seja como for, é preciso que me deixe ajudá-lo.' 'Não pode', disse ele com muita simplicidade e suavemente, agarrado a uma ideia que eu podia ver a tremeluzir como a água de um pequeno charco no escuro, mas de que desesperava poder aproximar-me o suficiente para a sondar. Contemplei a sua figura robusta. 'Pelo menos', disse eu, 'posso ajudá-lo naquilo que vejo de si.