Capítulo XXXVIII «Tudo começa, como já lhe disse, com um homem chamado Brown», assim dizia a frase inicial da narrativa de Marlow. «Você, que percorreu o Pacífico Ocidental, deve ter ouvido falar nele. Era o rufião-mestre da costa australiana - não que fosse visto muitas vezes por lá, mas porque entrava em todas as histórias de bandidos com que se obsequia um visitante vindo de Inglaterra; e a mais moderada dessas histórias que se contavam acerca dele, desde o cabo Iorque até à baía de Eden, era mais do que suficiente para enforcar um homem, se fosse contada no lugar próprio. Nunca deixavam de acrescentar que se presumia ser ele filho de um baronete. Seja como for, é certo que desertara de um barco inglês nos primeiros tempos das pesquisas do ouro, e em poucos anos começou a falar-se dele como o terror deste ou daquele grupo de ilhas da Polinésia. Raptava os nativos; roubava aos comerciantes brancos que viviam isolados tudo o que encontrasse, até mesmo os pijamas, e, depois de espoliar os pobres diabos, quase sempre os convidava para um duelo à espingarda na praia, o que seria bastante leal, neste género de actividades, se nessa altura o adversário não estivesse já meio morto de medo. Brown era um pirata tardio tão miserável como os seus mais célebres protótipos; mas o que o distinguia dos seus confrades de patifaria, como Bully Hayes ou o melífluo Pease, ou esse bandido perfumado, esse peralta de suíças à Dundreary, conhecido pelo Dick, o Porco, era o carácter arrogante das suas velhacarias e um desprezo veemente pela humanidade em geral e pelas suas vítimas em particular. Os outros eram simplesmente biltres vulgares e rapaces, mas ele parecia movido por qualquer intenção complexa. Roubava um homem como que para lhe demonstrar que não lhe ligava grande importância e punha no assassínio ou na mutilação de um estrangeiro pacífico e inofensivo uma aplicação selvagem capaz de aterrorizar o mais temerário dos aventureiros.