Capítulo XLII «Na verdade, não creio que ele tivesse feito mais que entrever essa vereda em linha recta. Parecia ter ficado intrigado com o que viu, porque, mais de uma vez, interrompeu a sua narração para exclamar: 'Quase conseguiu escapar-se-me de entre os dedos. Não podia compreendê-lo. Quem era ele?' E depois de fixar em mim uns olhos alucinados, continuava a falar com risos de júbilo e de desprezo. Para mim, a conversa entre estes dois homens de uma margem para a outra surge-me agora como um dos mais encarniçados duelos que o Destino jamais contemplou com o frio desconhecimento do desfecho. Não, Brown não voltou do avesso a alma de Jim, mas, ou eu estou muito enganado, ou aquele espírito, tão longe do seu alcance, foi obrigado a beber até ao fim o cálix da amargura daquela contenda. Estes eram os emissários que o mundo a que ele renunciara lhe enviava para o perseguirem até ao seu refúgio. Brancos saídos desse 'além' onde não se julgava digno de viver. Era isto o que chegava até ele - uma ameaça, um abalo, um perigo para o seu trabalho. Suponho que foi este sentimento de tristeza, meio ressentido, meio resignado, que, aflorando de vez em quando nas raras palavras de Jim, fez Brown sentir-se tão intrigado, ao tentar decifrar o carácter desse homem. Alguns grandes homens devem muito da sua grandeza à habilidade de descobrirem naqueles que escolhem para seus instrumentos a exacta qualidade da força necessária à obra deles, e Brown, como se fosse realmente grande, tinha um talento satânico para descobrir o ponto mais forte e o mais fraco das suas vítimas. Confessou-me que Jim não era daqueles que é possível subjugar mostrando submissão, e, por conseguinte, Brown teve o cuidado de se apresentar como um homem que enfrenta a vida sem desânimo, sem malícia, sem opróbrio.