Nota do Autor Quando esta novela apareceu pela primeira vez publicada em livro, espalhou-se a opinião de que eu fora dominado pelo assunto. Alguns críticos afirmaram que a obra, de início um conto, acabara por escapar ao domínio do autor. Um ou dois descobriram a evidência do facto pela crítica interna, o que pareceu diverti-los. Salientaram as limitações da forma na narração. Sustentaram que nenhum homem pode falar tanto tempo seguido nem que outros o escutem. Não era, disseram, muito verosímil.
Depois de ter reflectido durante quase dezasseis anos, não estou assim tão certo de que isso seja verdade. Sabe-se que houve homens, tanto nos trópicos como nos climas temperados, capazes de passarem acordados metade da noite empenhados num «intercâmbio de histórias». Esta é, contudo, apenas uma única história, que comporta, no entanto, interrupções que permitem ao leitor descansar; com respeito à capacidade de resistência dos ouvintes, tem de se aceitar o postulado de que a história era interessante. É esta a hipótese preliminar necessária. Se eu não tivesse acreditado que era interessante, nunca teria podido começar a escrevê-la. Quanto à mera possibilidade física, todos nós sabemos que alguns discursos no Parlamento levaram não três, mas quase seis horas a pronunciar; ao passo que a parte do livro que contém a narrativa de Marlow pode ser lida em voz alta, inteira, creio que em menos de três horas. Além disso, embora eu tivesse omitido por completo da narração todos os pormenores insignificantes, podemos supor que se serviram refrescos nessa noite, talvez um copo de qualquer água mineral, para ajudar o narrador a prosseguir.
Mas, falando a sério, a verdade é que a minha primeira ideia foi escrever um conto sobre o episódio do barco dos peregrinos, e nada mais.