Capítulo XIII «Depois de ter pronunciado estas palavras e sem uma mudança de atitude, entregou-se por assim dizer, passivamente a um estado de silêncio. Deixei-me ficar ao pé dele; e de repente, mas sem brusquidão, como se "esse chegado o tempo marcado para a sua voz pausada e áspera sair da mobilidade, exclamou Mon Dieu!, como o tempo passa!' Era a frase mais igual que se possa imaginar; mas esta expressão vocal coincidiu para mim com um momento de visão. É extraordinário como passamos na vida com os olhos meio fechados, surdos, e o cérebro entorpecido. Talvez seja um rem; e pode muito bem ser que seja esse entorpecimento o que torna a vida - suportável e tão doce à incalculável maioria das pessoas. Contudo, há pouca gente que não conheça um desses raros momentos de despertar, quando vemos, ouvimos, compreendemos tudo, num relâmpago, antes de voltarmos a cair numa sonolência agradável. Levantei os olhos quando falou e vi-o como não o tinha visto até aí. Vi-lhe o queixo enterrado no peito, casaco todo amarrotado, as mãos entrelaçadas, a atitude imóvel, tão curiosamente sugestiva da possibilidade de ter sido muito simplesmente ando ali. O tempo passara sem dúvida: tinha-o apanhado e passado à frente. Deixara-o para trás com algumas pobres lembranças: o cabelo grisalho, o duro cansaço da face curtida, duas cicatrizes, um par de dragonas sem brilho. Era um daqueles homens sólidos, de confiança, que são matéria-prima das grandes reputações, uma daquelas inúmeras vidas serradas sem honras públicas sob as bases de êxitos monumentais. 'Sou agora terceiro-tenente a bordo da Victorieuse' (era o barco-almirante da esquadra francesa do Pacífico nessa altura), disse ele, afastando um pouco as costas da parede para se apresentar.