Capítulo XXXV Mas na manhã seguinte, quando a primeira curva do rio escondeu as casas de Patusan, toda a realidade destes factos desapareceu da minha vista, com o seu colorido, desenho e significação, como uma pintura criada pela imaginação sobre uma tela à qual se volta as costas depois de a ter contemplado longamente e que permanece na memória, imarcescível com a sua vida parada e uma luz inalterável. A lembrança das ambições, dos temores, dos ódios, das esperanças, permanece no meu espírito, intensa, e suspensa para sempre na sua expressão. Afastara-me do quadro e voltara para o mundo onde os acontecimentos se sucedem, os homens mudam, as luzes tremulam, a corrente da vida desliza indiferentemente sobre lama ou seixos. Não tencionava mergulhar nessa corrente clara, já era esforço bastante conservar a cabeça de fora. Mas quanto ao que deixava atrás de mim não podia conceber que alguma vez se alterasse: o corpulento e magnânimo Doramin e a sua esposa, bruxa maternal, a contemplarem juntos o país e a nutrirem secretamente sonhos de ambição para o filho; Tunku Allang, encarquilhado e perplexo; Dain Waris, inteligente e corajoso com a sua fé em Jim, com o seu olhar firme e a sua cordialidade irónica; a jovem, absorvida na sua adoração, assustada e desconfiada; Tamb' Itarn, arrogante e fiel; Cornélio, a apoiar a testa na sebe à luz da Lua - vejo-os nitidamente. Eles existem como que evocados por uma varinha de condão. Mas não vejo tão claramente a figura à roda da qual todas estas personagens estão agrupadas... Aquele que vive. Nenhuma vara mágica pode imobilizá-lo perante os meus olhos. Ele é um de nós.
«Jim, como já lhes contei, acompanhou-me durante a primeira etapa do meu regresso ao mundo a que ele renunciara, e, por vezes, o caminho parecia conduzir-nos através do próprio coração da Terra, selvagem e virgem.