Capítulo XL «A finalidade de Brown era ganhar tempo, jogando com a diplomacia de Kassim. Para o êxito completo daquele negócio, ele não podia deixar de pensar que o branco era a pessoa indispensável com quem seria preciso trabalhar. Não podia imaginar que um homem daqueles (que deveria ser, afinal, extremamente esperto para dominar os indígenas daquela maneira) pudesse recusar a sua ajuda, o que evitaria a necessidade de lentos, prudentes e perigosos embustes que se impunham como a única linha de conduta possível a um indivíduo isolado. Ele, Brown, oferecia-lhe o poder. Ninguém hesitaria perante tal oferta. O essencial era chegar a um acordo. Cada um receberia a sua parte, evidentemente. A perspectiva de ter ao alcance da mão um forte, um fone verdadeiro, com artilharia (soubera-o através de Cornélio}, excitava-o. Que o deixassem entrar... Imporia condições modestas. Não demasiado modestas, todavia. O homem não devia ser um imbecil. Trabalhariam como irmãos até... até ao dia da disputa e do tiro que saldaria todas as contas. Na sua selvagem ânsia de pilhagem, desejava encontrar-se já a falar com o homem. Via-se com o país entre as mãos para o devastar, oprimir e sujeitar. Entretanto, era necessário aliciar Kassim para obter víveres... e para poder manejar os cordelinhos. Mas o principal era arranjar alguma coisa para comerem dia a dia. Além disso, não repugnava a Brown a ideia de se bater pela causa do rajá e dar uma lição àqueles que o tinham recebido a tiro. Apoderara-se dele um veemente desejo de combate.
«Lamento não poder transmitir-lhe as próprias palavras de Brown para lhe contar esta parte da história, que soube através dele. Na linguagem violenta e entrecortada deste homem, que, à beira da morte, me desnudava os seus pensamentos, havia uma crueldade natural, uma atitude estranha e vingativa para com o seu próprio passado e uma fé cega na legitimidade da sua vontade em oposição à humanidade inteira, o que levava o chefe de uma horda de assassinos errantes a intitular-se altivamente o 'Flagelo de Deus'.