Capítulo XI Ouviu-me até ao fim com a cabeça inclinada para o lado, e eu entrevi; de novo através de um rasgão no nevoeiro em que se movia e no qual seu ser existia. A luz fraca da vela chiava dentro do globo de vidro, e era da claridade de que eu dispunha para o ver; nas suas costas estava a no com as estrelas claras, cujo brilho distante ordenado em planos recuados trai o olhar para as profundidades de outra escuridão ainda maior; e, contudo uma luz misteriosa parecia mostrar-me a sua cabeça de garoto, como naquele momento o rapazinho que existia dentro dele tivesse, durante momento, surgido e morrido. 'Que grande bondade a sua em ouvir - disse ele. - Faz-me bem. Não sabe o que isto significa para mim. Não e... ' Parecia faltarem-lhe as palavras. O que eu via nele era claro: um em daqueles que gostamos de ver à nossa volta; daquele género a que eramos de imaginar que já pertencemos e cujo aparecimento exige a participação das ilusões que julgávamos extintas, mortas, frias, e que, como reanimadas ao contacto de outra chama, têm uma vibração muito, muito fundo de nós próprios, algures, uma vibração de luz de calor!...Vi-lhe num relance o fundo da alma nesse momento e não foi última vez... 'O senhor não sabe o que representa para um indivíduo minha situação ter alguém que acredite nele - poder abrir o coração a um homem mais velho. É tão difícil, tão horrivelmente injusto, tão trincado!
«O nevoeiro voltara a cerrar-se. Não sei que idade me daria ele - nem e lhe pareceria muito sensato. Mas não me daria nem metade da idade se eu sentia ter nesse instante; nem metade da sensatez inútil que eu sentia possuir. Certamente em nenhum outro ofício como neste do mar aqueles que foram já lançados à água para se desembaraçarem pelos seus próprios meios olham com mais amor para os jovens ainda na margem, a contemplarem com um brilho nos olhos o esplendor da vasta superfície que é apenas o reflexo dos seus olhares de fogo.