Capítulo XVI «Tempo viria em que ele ia ser amado, seguido, admirado, em que se havia de formar uma lenda de força e de bravura à volta do seu nome, como se ele tivesse o estofo de um herói. Posso garantir-lhes que é verdade, tão certo como eu estar aqui, a falar-lhes dele. Ele, pelo seu lado, tinha a faculdade de reconhecer num ápice os traços do seu desejo e a forma dos seus sonhos, sem a qual o mundo não conheceria nem amantes nem aventureiros. Conquistou honra e uma felicidade arcádia, na selva (sem falar de uma certa inocência), tão importante como a honra e a felicidade arcádia no meio dos homens. A felicidade, a felicidade - como dizê-lo? -, pode beber-se numa taça de ouro, em todas as latitudes: o gosto que ela tem está em nós, só em nós, e podemos torná-la inebriante com a intensidade que desejarmos. Ele pertencia àquela categoria de homens que a bebem até ao fim, como se pode ver pelo que aconteceu antes. Encontrei-o, se não exactamente inebriado, pelo menos excitado pelo elixir que provava. Não obtivera de repente essa felicidade. Houvera como sabem, um período de provação, o emprego nas casas daqueles infernais fornecedores de navios, durante o qual ele sofrera e eu me atormentara por causa - por causa da confiança que nele depositara, se assim quiserem. Não sei se estou completamente tranquilo a respeito dele mesmo depois de o ter visto em todo o seu esplendor, pois foi assim que vi pela última vez, exemplar, dominador, e contudo em perfeito acordo com o que o rodeava - com a vida da floresta e com a vida dos homens. Confesso que esse espectáculo me impressionou, mas no fim de contas não é essa a última impressão que guardo dele. Na selva ele estava protegido pelo seu isolamento, único da sua raça, em contacto íntimo com a natureza, tão fiel àqueles que a amam.