Capítulo XXV «'Foi aqui que estive preso durante três dias', murmurou ele (no dia que fomos visitar o rajá), enquanto atravessávamos lentamente o pátio da casa de Tunku Allang por entre o tumulto dos indígenas, petrificados por uma espécie de terror respeitoso. 'Um sítio imundo, não é verdade? E também não conseguia nada para comer, a não ser que fizesse um barulho dos diabos; e então apenas me traziam um pratinho de arroz e um peixe frito não muito maior do que um peixe-espinho - diabos os levem! Caramba! Estava esfomeado e andava a vaguear dentro deste recinto fedorento com alguns desses vagabundos que metiam os focinhos mesmo debaixo do meu nariz. Entregara o seu famoso revólver assim que mo pediram, satisfeito por me ver livre daquela maldita arma! Parecia um idiota com uma arma de fogo vazia na mão.' Nesta altura, chegámos à presença de Tunku Allang, e Jim tornou-se sério e cerimonioso diante do seu antigo captor. Oh!, era magnífico! Ainda me dá vontade de rir quando penso nisso! Mas eu também estava impressionado. O velho patife do Tunku Allang não podia deixar de mostrar o seu terror (não era nenhum herói, apesar das histórias da sua ardente juventude que gostava de contar); ao mesmo tempo, havia nas suas maneiras uma espécie de confiança atenta para com o seu antigo prisioneiro. Reparem! Mesmo os que mais o odiavam tinham confiança nele Jim - tanto quanto pude depreender da conversa - aproveitava a nossa visita para dar uma repreensão. Alguns pobres aldeões tinham sido assaltados e roubados quando iam a caminho da casa de Doramin com peças de borracha e cera de abelhas para trocar por arroz. 'Foi Doramin o ladrão' explodiu o rajá. Uma cólera fremente parecia apoderar-se daquele corpo velho e débil. Encarnação da raiva impotente, agitava-se freneticamente na sua esteira, gesticulava com os pés e com as mãos e sacudia as madeixas emaranhadas da cabeleira.