Capítulo VII Entrara no porto nessa tarde um barco em viagem de recreio e a espaçosa sala de jantar do hotel estava mais do que meia de gente com um bilhete de cem libras no bolso, para dar a volta ao mundo. Havia casais com ar muito familiar e aborrecidos da companhia mútua, no meio das suas viagens: havia grupos grandes e grupos pequenos e pessoas solitárias a jantarem com ar solene ou a banquetearem-se ruidosamente, mas todos a pensar, a conversar, a galhofar ou a carregar o sobrolho da maneira que lhes era habitual em casa; e mostravam-se tão inteligentemente receptivos às novas impressões como as malas que tinham lá em cima nos quartos. Daí em diante iriam ter direito ao rótulo de pessoas que passaram por este e por aquele lugar, o mesmo rótulo colado na sua bagagem Lembrariam com prazer este sinal distintivo das suas pessoas, conservariam as etiquetas coladas nas malas como documentos comprovativos, como único vestígio permanente da sua proveitosa aventura. Os criados, de pele escura, deslizavam para cá e para lá sem ruído no vasto chão lustroso; de vez em quando ouvia-se um riso de rapariga, tão inocente e tão vazio como o seu Cérbero ou, no meio de uma súbita acalmia do tinir dos pratos, algumas palavras pausadas ditas com afectação por um engraçado, a cantar com exagero, para gáudio de uma mesa de bocas arreganhadas, a última história divertida de um escândalo a bordo. Duas velhas solteironas nómadas, vestidas a matar, examinavam acrimoniosamente a ementa, trocando comentários em surdina uma para a outra com os lábios descorados, com caras de pau, bizarras como dois sumptuosos espantalhos. Um pouco de vinho incutiu sinceridade em mim e desatou-lhe a língua. Reparei que o seu apetite também era bom.
Parecia ter enterrado algures o episódio de abertura do nosso conhecimento.