montão de sucata, feito de peças de refugo, sobreaquecido, podre, chocalhava e estrondeava lá em baixo mais do que um velho cabrestante: e não podia explicar o que é que o levava a arriscar a vida todos os dias que Deus deitava ao mundo no meio do rebotalho, que uma empresa de demolições recusaria, a trabalhar a cinquenta e sete rotações por minuto. Era temerário de nascença, caramba! Ele... «Onde arranjou bebidas?», perguntou o alemão, encolerizado, mas imóvel na luz projectada pela caixa da bússola, como a figura informe de um homem, talhada num monte de gordura. Jim continuava a sorrir para o horizonte fugidio, com o coração cheio de impulsos generosos, e o seu pensamento contemplava a sua própria superioridade. «Bebidas'», repetia o maquinista com um ar de escárnio afável: estava todo inclinado, apoiado em ambas as mãos sobre a grade, figura indistinta com pernas flexíveis. «Não foi o senhor que mas deu, capitão. É mesquinho de mais para isso, caramba! Era capaz de deixar morrer um homem às direitas, sem lhe dar um gota de genebra. É a isso que vocês, Alemães, chamam economia, poupar em ninharias para esbanjar noutras coisas.» Tornou-se sentimental. O maquinista-chefe tinha-lhe dado uma pinga, aí coisa de quatro dedos, por volta das dez - «só uma pinga, assim Deus me salve!» -, o bom, o velho chefe; quanto a arrancar o velho sabido do beliche, nem com um guindaste de cinco toneladas. Nem com isso. Pelo menos nessa noite. Estava a dormir docemente como uma criancinha, com uma garrafa de excelente brande debaixo da almofada. Ouviu-se um ruído surdo, saído do profundo das goelas do comandante do Patna, e no meio dele o som da palavra Scbioein, adejou como uma pena em curvas caprichosas numa ligeira corrente de ar.