Lord Jim - Cap. 38: Capítulo XXXVII Pág. 362 / 434

«Stein dissera: 'Já vai saber.' Soube de facto. Ouvi com espanto e pavor o que ela me contou com uma entoação de cansaço inflexível. Ela não podia compreender o sentido real do que me estava a dizer, e o seu ressentimento encheu-me de piedade por ela - e por ele também. Fiquei pregado ao chão depois de ela ter acabado. Apoiada nos cotovelos, olhava fixamente em frente com uns olhos duros, e o vento passava em lufadas, os cristais continuavam a tinir na obscuridade esverdeada. Ela prosseguiu, murmurando para si mesma: 'E, contudo, ele estava a olhar para mim! Via o meu rosto, ouvia a minha voz e via a minha aflição. Quando me sentava a seus pés, com a face sobre o seu joelho e a sua mão na minha cabeça, o demónio da crueldade e da loucura já estava dentro dele à espera do dia. O dia chegou!... E antes de o Sol se ter posto ele já não me podia ver, tornara-se cego e surdo e impiedoso como vocês todos são. De mim, não terá lágrimas. Não hei-de chorar. Ele deixou-me como se eu fosse pior do que a morte! Fugiu como acossado por qualquer maldição que tivesse ouvido ou visto enquanto dormia, em sonhos... '

«Os seus olhos fixos pareciam esforçar-se por seguirem a sombra de um homem arrancado dos seus braços pela força de um sonho. Ela não respondeu à minha inclinação de cabeça silenciosa. Eu estava contente por me esgueirar.

«Voltei a vê-la outra vez, na mesma tarde. Ao deixá-la, tinha ido à procura de Stein, que não consegui encontrar dentro de casa; perseguido por pensamentos angustiantes, pus-me a vaguear pelos jardins, os famosos jardins de Stein, nos quais se podem encontrar todas as plantas e árvores das baixas regiões tropicais. Segui o curso de um regato canalizado, e durante muito tempo fiquei sentado num banco, à sombra, ao pé do lago artificial onde alguns pássaros aquáticos de asas cortadas mergulhavam e chapinhavam ruidosamente.





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