Lord Jim - Cap. 7: Capítulo VI Pág. 79 / 434

«Alguns certamente ter-se-iam rido da sua teimosia. Eu, não. Oh, eu não! Nunca um homem fora tão cruelmente posto a descoberto pelo seu impulso natural. Uma só palavra despojara-o da sua discrição - daquela discrição que é mais necessária à decência do nosso ser interior do que a roupa ao decoro do nosso corpo. 'Não seja imbecil', repeti. 'Mas o outro homem disse-o, é capaz de negar?', exclamou ele com voz clara e a olhar para mim sem hesitação. 'Não, não nego', disse eu olhando-o, por minha vez, da mesma maneira. Por fim, os seus olhos seguiram a direcção que o meu dedo apontava. Primeiro pareceu não compreender, depois mostrou-se confundido, e por fim espantado e medroso, como se o cão fosse um monstro que ele nunca tivesse visto na sua vida. 'Ninguém o quis insultar', disse eu.

«Ele fitava o pobre animal, que se mantinha imóvel como uma estátua, sentado, com as orelhas espetadas e o focinho pontiagudo apontado para a porta e que de repente abocanhou uma mosca com um movimento de peça mecânica.

«Olhei para Jim. O avermelhado da sua pele branca tostada pelo sol avivou-se repentinamente debaixo dos pêlos da barba, invadiu a testa, alastrou até às raízes do cabelo encaracolado. As orelhas tornaram-se intensamente escarlates, e até o azul tão claro dos seus olhos escureceu pelo afluir do sangue à cabeça.

«Estendeu um pouco os lábios, a tremer como se estivesse prestes a chorar, e percebi que ele era incapaz de pronunciar uma palavra por excesso de humilhação. Também desiludido - quem sabe? Talvez ele esperasse que a reabilitação, o apaziguamento, lhe viessem da tareia que me ia dar. Quem pode dizer que alívio esperava ele desta ocasião de brigar? Era suficientemente ingénuo para esperar fosse o que fosse: mas denunciara-se inutilmente, neste caso.





Os capítulos deste livro