Lord Jim - Cap. 8: Capítulo VII Pág. 89 / 434

Mas fazem-me uma injustiça, e em mais do que um sentido se pensam que eu estava surpreendido ou chocado! Ah, que sujeito imaginativo era ele! Traía-se; entregava-se. Eu via no seu olhar arremessado para a noite todo o seu ser interior levado, projectado impetuosamente, para o reino fantástico das aspirações temerariamente heróicas. Ele não tinha vagar para lastimar o que perdera, porque estava inteira e naturalmente preocupado com o que estivera quase a obter. Encontrava-se muito longe de mim, que o observava a três pés de distância. De instante a instante ele penetrava mais fundo no mundo impossível dos feitos românticos. Alcançou finalmente o centro! Uma estranha expressão de beatitude espalhou-se pelas suas feições, os seus olhos brilhavam à luz da vela que ardia sobre a mesa, entre nós; e pôs-se positivamente a sorrir! Penetrara no centro mesmo no centro. Era um sorriso de êxtase, que nem os vossos rostos nem o meu - jamais mostrarão, meus queridos amigos. De chofre, chamei-o à realidade, dizendo: 'Quer dizer, se tivesse permanecido no seu posto, no barco!'

«Voltou-se para mim, com os olhos subitamente cheios de assombro e de dor, com uma expressão de espanto, de alarme e de sofrimento estampado no rosto, como se tivesse caído aos trambolhões de um outro planeta. Nem os senhores nem eu teremos oportunidade de ver coisa semelhante noutro homem. Estremeceu profundamente, como se uma mão de gelo lhe tivesse tocado o coração. Depois suspirou.

«Eu não estava na disposição de ser compassivo. As suas indiscrições contraditórias eram provocantes. 'Foi pena que não o tivesse sabido de antemão, disse eu cheio de intenções malévolas; mas o projéctil traiçoeiro caiu sem o atingir - tombou aos seus pés como uma flecha que perdeu força, por assim dizer, e não fez um gesto para a apanhar.





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