Lord Jim - Cap. 11: Capítulo X Pág. 127 / 434

Eu não o ouvi. Era a última rajada forte. Fiquei com pena. Teria tentado - tentado... '

«Abriu e fechou os dedos dobrados, e havia nas suas mãos um tremor impaciente e cruel. Calma, calma, murmurei.

«'Hein? O quê? Não estou nervoso', retorquiu, muito ofendido, e com um movimento descontrolado do cotovelo atirou a garrafa de conhaque ao chão. Precipitei-me para a frente, arrastando a cadeira. De um pulo, saltou da mesa como se uma mina tivesse explodido atrás dele e deu meia volta antes de pousar no chão, agachado; o rosto que voltou para mim estava branco à volta das narinas e tinha os olhos exorbitados. A seguir tomou uma expressão de intenso aborrecimento. 'Sinto-me confundido. Que desairoso da minha parte!', disse baixinho, muito vexado, enquanto um cheiro acre a álcool nos envolvia subitamente numa atmosfera de bebedeira reles, ao meio da escuridão fresca e pura da noite. Tinham apagado as luzes na sala de jantar; a vela posta na mesa na nossa frente brilhava solitária na longa galeria e as colunas eram agora formas escuras. Na luz muito clara das estrelas, o ângulo superior da Capitania do Porto destacava-se, nítido, do outro lado da esplanada, como se aquele edifício sombrio tivesse deslizado para ver e ouvir de mais perto.

«Tomou um ar de indiferença.

«'Não receio dizer que estou agora menos calmo do que então. Estava pronto para tudo. Coisas sem importância... '

«'Passou momentos bem agitados no salva-vidas', observei-lhe.

«'Eu estava pronto, repetiu. 'Depois de as luzes do barco terem desaparecido, tudo podia acontecer ali - absolutamente tudo -, sem que jamais alguém o soubesse. Senti isso e fiquei satisfeito. Estava também suficientemente escuro. Éramos como homens emparedados vivos num túmulo espaçoso.





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