Lord Jim - Cap. 22: Capítulo XXI Pág. 229 / 434

'Que maravilhoso efeito', disse Jim ao meu lado. 'Digno de ser visto, não é verdade?'

«Fazia-me esta pergunta com uma espécie de orgulho pessoal, que me fez sorrir, como se tivesse ajudado a organizar este espectáculo único. Organizara tantas coisas em Patusan, e coisas que à primeira vista pareciam tão afastadas do seu controle, como o movimento da Lua e das estrelas!

«Era inconcebível o que ele tinha obtido; «inconcebível» era o adjectivo para qualificar o papel que Stein e eu lhe distribuíramos, sem outra intenção, aliás, do que afastá-lo do mundo dos homens; mais ainda: de o arrancar à sua própria vida. Era este o nosso primeiro móbil, mas tinha outra razão. Eu devia partir dentro de pouco tempo para Inglaterra, onde me demoraria uma temporada, e é possível que desejasse meio inconscientemente talvez, arrumá-lo - ouvem bem?, arrumá-lo - antes de o fazer. Voltava para o meu país, e fora o meu país que mo enviara, com a sua triste pena e os seus obscuros direitos, como um homem ofegante, a carregar um fardo, meio do nevoeiro. Não posso afirmar tê-lo compreendido claramente... nem mesmo hoje, depois dessa última visita que lhe fiz, mas parecia-me que quanto menos o compreendia mais obrigações tinha para com ele, em nome daquela dúvida que é parte inseparável da nossa experiência. Eu também não sabia muito mais a meu próprio respeito. E depois, repito, voltava à pátria, àquela pátria onde, à distância a que me encontrava, todos os lares pareciam formar um só lar, no qual o mais humilde de nós tem o seu lugar. Vagabundeamos aos milhares sobre a face da Terra, uma com nomes ilustres, outros obscuros, para ganhar para além dos mares a glória, dinheiro, ou unicamente uma côdea de pão; mas parece-me a mim que o regresso a casa deve ser para todos uma apresentação de contas.





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