Lord Jim - Cap. 25: Capítulo XXIV Pág. 253 / 434

O único movimento que se atrevia a fazer era estender a mão, com um cuidado extremo, para a meia casca de coco que flutua, aos seus pés e de esvaziar a água do fundo da piroga com muita precaução. Descobriu que a tampa de um malão de lata é um assento muito duro Gozava de uma saúde de ferro, mas várias vezes durante essa viagem teve vertigens, e cismava confusamente no tamanho das bolhas que a exposição ao sol lhe estava a formar nas costas. Para se distrair, experimentou adivinhar se aqueles objectos cobertos de lama que via nas margens, esforçando-se por olhar o mais longe possível, seriam crocodilos ou troncos de árvore. Mas depressa desistiu; não tinha graça nenhuma: eram sempre crocodilos. Um deles quase fez virar a canoa ao atirar-se à água, e este divertimento acabou. Ao passar numa longa extensão vazia, sentiu gratidão por um bando de macacos que vieram à margem fazer uma tremenda algazarra à passagem da canoa. Eis como ele caminhava para o lugar onde havia de alcançar a verdadeira grandeza, uma grandeza tão genuína como a que qualquer homem jamais conquistou. Mas naquele momento todo o seu desejo era que se pusesse o Sol, enquanto os três indígenas se preparavam para executar o plano que tinham concertado: de o entregarem ao rajá.

«'Suponho que estava estúpido de cansaço, ou então que dormitei um momento', disse ele, porque a primeira coisa de que se apercebeu foi de que a sua canoa acabava de tocar na margem. A floresta ficara para trás, viam-se as primeiras casas no alto e uma paliçada à esquerda. Os remadores saltaram todos em terra ao mesmo tempo e deram às de vila-diogo. Instintivamente, saltou após eles. Primeiro pensou que o tinham abandonado por uma razão inexplicável, mas ouviu uma grande gritaria e viu um portão abrir-se e um mago te de gente sair a correr direito a ele.





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