Lord Jim - Cap. 32: Capítulo XXXI Pág. 313 / 434

«Jim reparou em tudo isto. Disse-me que experimentava um sentimento de alívio inexprimível, de alegria vingadora. Esperou um momento antes de apoiar o dedo no gatilho, lenta e deliberadamente, diz ele. Esperou um décimo de segundo, três passadas do homem, um tempo infinito. Esperou pelo prazer de dizer a si mesmo: 'Eis um homem morto!' Estava absolutamente seguro disso. Deixou-o avançar porque não tinha importância. Era um homem morto, como quer que fosse. Observou as narinas dilatadas, os olhos esgazeados, a imobilidade tensa e ansiosa do rosto, e depois disparou.

«Naquele espaço limitado, a explosão foi ensurdecedora. Jim recuou um passo. Viu o homem atirar a cabeça para trás, lançar os braços para a frente e deixar cair o cris. Soube depois que atingira o homem na boca e que a bala seguira uma trajectória oblíqua e saíra pelo alto do crânio. O impulso da corrida atirou o homem para a frente, com a cara de repente desfigurada, com as mãos abertas às apalpadelas, como se estivesse cego, e com uma violência terrível veio bater com a testa no chão a pouca distância dos pés descalços de Jim, que não perdera, dizia ele, o mínimo pormenor desta cena. Sentia-se calmo, apaziguado, sem rancor, sem inquietação, como se a morte daquele homem tivesse expiado tudo. O local enchia-se de fumo fuliginoso do archote, cuja chama vermelho-sangue brilhava firmemente sem vacilar. Jim avançou decididamente, passou por cima do cadáver e manteve ao alcance do revólver outra silhueta que se delineava vagamente no outro canto. Quando se preparava para premir o gatilho, o homem deitou fora com força uma lança curta e pesada, acocorou-se sobre as coxas humildemente, com as costas voltadas para a parede e as mãos cruzadas entre as pernas. 'Não queres morrer, pois não?', perguntou Jim.





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