Lord Jim - Cap. 33: Capítulo XXXII Pág. 319 / 434

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«Depois permanecemos em silêncio.

«'Um mistério', repetiu ele antes de erguer os olhos. 'Pois bem, deixem-me então ficar sempre aqui.'

«Depois de o Sol se ter posto, a noite pareceu cair sobre nós, trazida pelas lufadas de uma leve brisa. No meio de uma vereda bordada de sebes lobriguei a silhueta imóvel, magra e vigilante de Tanub' Itam, que parecia ter só uma perna; através da penumbra, o meu olhar distinguiu uma sombra branca que se movia para cá e para lá por detrás dos suportes do telhado. Assim que Jim, com Tamb' Itam colado aos calcanhares, partiu para a ronda nocturna, entrei sozinho em casa e encontrei-me inesperadamente em face da jovem, que estivera, sem dúvida, à espera desta oportunidade.

«É-me difícil explicar o que é que ela queria precisamente arrancar de mim. Obviamente seria qualquer coisa de muito simples, a mais simples impossibilidade do mundo, como por exemplo a descrição exacta da forma de uma nuvem. Ela queria uma certeza, uma afirmação, uma promessa, uma explicação - não sei como chamar-lhe: a coisa não tem nome. Fazia escuro sob o telhado saliente, e tudo o que eu podia distinguir eram as linhas flexíveis do vestido, o oval pálido do rosto, com o brilho branco dos dentes, e, voltadas para mim, as grandes órbitas sombrias onde parecia haver um ligeiro ondular, como o que se julga distinguir quando mergulhamos o olhar num poço muito fundo. Que é que se move lá em baixo?, perguntamos a nós mesmos. Será um monstro cego ou apenas um reflexo perdido do universo? Veio-me à ideia - não se riam - que, sendo todas as coisas dissemelhantes, ela era mais impenetrável na sua ignorância infantil do que a Esfinge propondo enigmas pueris aos viajantes. Fora trazida para o Patusan antes de ter os olhos abertos.





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