Lord Jim - Cap. 36: Capítulo XXXV Pág. 347 / 434

Não. Não posso dizer... o bastante. Nunca. Tenho de continuar, de percorrer o meu caminho até ao fim, para ter a certeza de que nada me pode atingir. Tenho de apoiar-me na confiança que eles têm em mim para me sentir seguro e para... para... ' - procurou uma palavra, pareceu querer descobri-la no mar -'... para estar em contacto com... - a sua voz sumiu-se num murmúrio -... com aqueles que talvez nunca mais venha a ver. Com... com... consigo, por exemplo.'

«Fiquei profundamente comovido com estas palavras. 'Pelo amor de Deus', disse eu, 'não faça tanto caso de mim, meu querido amigo; pense também um pouco em si.' Senti uma gratidão, uma ternura, por aquele homem que ficara um dia para trás, cujos olhos me tinham distinguido nas fileiras de uma multidão insignificante. Não tinha muito de que me orgulhar, no final de contas. Desviei a cara a arder; sob o Sol baixo, cujo sombrio brilho de púrpura era como um tição tirado do fogo, o mar aberto oferecia a sua imensa paz ao globo flamejante. Jim ia a falar, por duas vezes, mas conteve-se; finalmente, como se tivesse encontrado uma fórmula:

«'Serei fiel!', disse calmamente. 'Serei fiel', repetiu sem olhar para mim, mas pela primeira vez deixou que os seus olhos errassem sobre as águas, cujo azul mudara para um violeta carregado sob a fogueira do sol poente. Ah, ele era romântico! Lembrei-me de Stein... 'Mergulhar no elemento destruidor!... Seguir o sonho e voltar a seguir o sonho... para sempre... usque ad finem... ' Ele era romântico, mas sincero. Quem saberia dizer que formas, que visões, que rostos, que perdões, via ele na vermelhidão do ocaso!... Um pequeno bote deixou a escuna e moveu-se vagarosamente, ao ritmo regular de dois remos, em direcção ao banco de areia, para me levar.





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