Lord Jim - Cap. 37: Capítulo XXXVI Pág. 353 / 434

.. '? Fiquei à espera com curiosidade, confesso-o, e também com esperança, mas só o ouvi gritar: 'Não... nada.' .Foi tudo então - e não haverá mais nada; não haverá mensagem nenhuma, a não ser a que cada um de nós possa descobrir na linguagem dos factos, que muitas vezes são mais enigmáticos do que os mais subtis arranjos de palavras. É certo que ele fez mais uma tentativa para se libertar, mas essa tentativa também falhou, como você poderá ver, se der uma vista de olhos à folha de papel almaço inclusa. Tentou escrever; repare na banalidade do estilo. Escreveu no cabeçalho: 'O Forte de Patusan'. Suponho que ele levou a cabo o projecto de transformar a casa num lugar fortificado. Era um plano excelente: um fosso profundo, um muro de terra coroado por uma paliçada e, nos ângulos, canhões montados em plataformas, para varrer as quatro faces do quadrilátero. Doramin concordava em fornecer-lhe os canhões; assim, os seus partidários saberiam que havia um lugar seguro no qual todos os seus fiéis se poderiam reunir, no caso de sobrevir qualquer perigo inesperado. Tudo isto mostrava judiciosa previdência, a sua fé no futuro, o que ele chamava 'a minha gente' - os cativos libertos do xerife - devia formar um bairro distinto do Patusan, com as suas palhoças e pequenos pedaços de terra agrupados à volta dos muros da fortaleza. Lá dentro ele seria sozinho uma haste invencível. 'O Forte Patusan.' Sem data, como pode ver. Que importa um número e um nome para um dia entre dias? Também é impossível dizer em que pensava quando pegou na pena: em Stein, em mim, no mundo em geral... ou seria apenas o grito de terror, sem destinatário, de um homem sozinho em face do seu destino? 'Aconteceu uma coisa horrível, escreveu ele antes de atirar com a pena pela primeira vez; repare no borrão de tinta debaixo destas palavras, que se assemelha a uma ponta de flecha.




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