Lord Jim - Cap. 6: Capítulo V Pág. 48 / 434

meu tempo, para o serviço do Red Rag, para o ofício do mar, para o ofício cujo segredo poderia ser todo inteiro expresso numa curta frase e, contudo, tem de ser empurrado todos os dias para dentro de cabecinhas jovens, até se tornar parte integrante de cada um dos seus pensamentos enquanto acordados - até estar presente em cada sonho :'O seu dormir de moços?! O mar foi bom comigo, mas quando recordo todos aqueles rapazes que me passaram pelas mãos, alguns adultos agora, outros já tragados pelo mar, mas todos com estofo de marinheiro, creio que também não me portei mal com ele. Se eu embarcasse amanhã de volta casa, aposto que não se passariam dois dias sem que algum jovem imediato queimado pelo sol me apanhasse à saída de qualquer cais e sem que urna voz fresca e profunda a falar mais acima da minha cabeça me perguntasse: 'Não se lembra de mim, capitão? Eu era o Fulaninho de tal. Embarquei em tal e tal barco. Era a minha primeira viagem: E eu voltaria a ver a minha frente um garotinho espantado, da altura desta cadeira, acompanhado no cais pela mãe e talvez por uma irmã já crescida, muito calmas nas demasiado emocionadas para agitarem os lenços num adeus ao navio que desliza suavemente para o largo, por entre as pontas dos molhes; ou seria talvez um pai de meia-idade, respeitável, que veio cedo acompanhar o seu rapaz para se despedir dele e que ficou toda a manhã porque o cabrestante reteve visivelmente a sua atenção e se demorou de mais e tem finalmente de desembarcar de roldão, sem tempo para dizer adeus. O piloto da Jarra, à popa, chama-me com voz pachorrenta. 'Pare um instante, capitão. cá um cavalheiro que quer desembarcar... Vamos embora, cavalheiro. Quase ia sendo levado para Talcahuano, hem? Agora nós; devagarinho.




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