Lord Jim - Cap. 6: Capítulo V Pág. 49 / 434

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Muito bem. Tem de abrandar outra vez ali adiante.' Os rebocadores, a fumegarem como um poço, nas profundas do Inferno, apossam-se do velho rio e encrespam-no num torvelinho furioso até o deixarem revolto; o cavalheiro que desembarcou limpa as calças no joelho, lá no cais - o criado amável atirou-lhe o chapéu de chuva que deixara a bordo. Tudo muito correcto. Ofereceu ao mar o seu quinhão de sacrifício e agora pode voltar para casa e simular que tudo isto não tem importância; e a pequena vítima condescendente sofrerá um horrível enjoo antes de clarear um novo dia. Mais tarde, quando tiver aprendido os pequenos mistérios e o grande segredo do ofício, será digno de viver ou de morrer, conforme a imposição do mar: e o homem que foi parceiro neste jogo insensato, em que o mar ganha sempre, fica contente quando uma mão jovem, forte, lhe bate nas costas e ouve a voz alegre de um filhote do mar: 'Lembra-se de mim, capitão? Sou o Fulaninho de tal!'

«Digo-lhes que isto é bom; quer dizer que uma vez na vida, pelo menos, trabalhámos no direito caminho. Recebi palmadas dessas, e encolhi-me porque a palmada era rija, senti-me resplender um dia inteiro e fui-me deitar com um menor sentimento de estar sozinho no mundo por obra e graça dessa palmada cordial. Se me lembro do pequeno Fulaninho de tal! Digo-lhes que tenho obrigação de reconhecer a verdade sob as aparências. Pois teria posto o convés sob as ordens desse jovem, depois de o ver uma só vez, fiado no seu aspecto, e teria ido dormir a sono solto - e, caramba!, teria sido uma decisão perigosa. Há neste pensamento abismos de horror. Ele parecia autêntico como uma moeda nova, mas havia no metal de que era feito uma liga infernal. Em que proporção? Uma coisa de nada - uma gota mínima de qualquer coisa de raro e de execrável; uma gota mínima! -, mas obrigava-nos ali de pé com o seu ar de não-te-rales e de o Diabo-que-carregue-tudo-isto .





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