Lord Jim - Cap. 7: Capítulo VI Pág. 72 / 434

Brierly disse estas palavras com uma animação desusada e fez o gesto de tirar a carteira do bolso. Retive-o e declarei friamente que a cobardia desses quatro homens não me parecia assim uma coisa tão importante. 'E considera-se um marinheiro depois de dizer isso?', exclamou colérico. Eu disse-lhe que sim e que supunha que o era. Escutou-me e no fim fez com o braço um gesto que parecia despojar-me da minha individualidade, empurrar-me para o meio da multidão. 'O pior de tudo, é que nenhum de vocês tem o sentido da dignidade; você não liga bastante importância ao que se espera que seja.'

«Caminháramos entretanto lentamente, e estávamos agora parados diante da Capitania do Porto, à vista do mesmo local onde o enorme capitão do Patna desaparecera tão completamente como uma pequena pluma impelida por um furacão. Sorri. Brierly continuou: 'Isto é uma vergonha. Temos gente de toda a casta entre os nossos - temos malandros encartados na nossa classe; mas, o Diabo carregue tudo isto, temos de preservar o decoro profissional, ou seremos apenas uns borra-botas sem, vergonha. Confiam em nós, compreende? - em nós! Francamente, estou-me nas tintas para todos os peregrinos vindos da Ásia, mas um homem decente não se teria comportado desse maneira com um carregamento de fardos de trapos velhos. Nós não estamos organizados numa associação e a única coisa que nos liga é justamente a fama desse género de honestidade. Um caso como este destrói a confiança dentro de cada um. Um homem pode passar quase toda a sua vida de marinheiro sem ser chamado e mostrar o que pode aguentar Mas quando ouve o chamamento... Ah! Se eu... '

«Parou, e num tom diferente: 'Vou-lhe dar agora duzentas rupias, Marlow e você vai falar com esse rapaz. Diabos o levem! Nunca ele tivesse vindo para estes lados! Acontece que uns parentes meus conhecem a família dele, creio.





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