Lord Jim - Cap. 8: Capítulo VII Pág. 91 / 434

Sem articular pois um som, subiu para o convés através da escotilha n." 1. Uma vela armada que estava lá em baixo oscilou e bateu-lhe acidentalmente, e ele lembrava-se de que o ligeiro toque do pano no rosto quase o atirou pela escada da escotilha abaixo.

«Confessou que os joelhos lhe tremeram fortemente quando se deteve na coberta da proa a olhar 'para outro magote de gente adormecida. Como as máquinas estavam já paradas, o vapor escapava-se, e o seu ronco profundo fazia vibrar a noite como uma corda de contrabaixo. O barco estremecia em uníssono.

«Viu aqui e ali uma cabeça erguida de uma esteira, uma forma vaga levantar-se e ficar sentada, escutar sonolenta durante um instante, recair depois na confusão revolta de caixas, cabrestantes, ventiladores. Ele estava consciente de que toda aquela gente não tinha os conhecimentos suficientes das coisas do mar para perceber aquele ruído estranho. O barco de ferro, os homens de rosto branco, tudo o que viam, tudo o que ouviam, tudo a bordo, era igualmente desconhecido para aquela multidão ignorante e pia e tão digno de confiança quão incompreensível ficaria para todo o sempre. Veio-lhe à mente que este facto era uma sorte. A ideia, porém, era simplesmente terrível.

«É preciso que se lembrem de que ele julgava, como qualquer outra pessoa teria julgado no seu lugar, que o barco se ia afundar de um momento para o outro; as placas arqueadas, comidas de ferrugem, que retinham o oceano, iam fatalmente ceder subitamente como um dique minado e deixar entrar uma torrente inesperada e irresistível. Ficou parado a olhar aqueles corpos deitados, como um homem condenado consciente do seu destino a observar a companhia silenciosa dos mortos. Eles estavam mortos! Nada os poderia salvar! Havia salva-vidas para metade deles, talvez, mas faltava o tempo.





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