..»
Marlow deteve-se para reacender o charuto, que se lhe apagara, pareceu esquecer completamente a história, e depois, bruscamente, recomeçou a falar.
«A culpa foi minha, está claro. Ninguém tem nada que começar a interessar-se. É uma fraqueza minha. A dele era de outro género. A minha fraqueza consiste em não ser bastante perspicaz para distinguir o que é acidental, o que é aparência, para distinguir o saco do trapeiro da roupa fina do meu vizinho. Do meu vizinho - aí está! Conheci tantos homens», continuou Marlow, com uma expressão passageira de tristeza, «e houve também na maneira como travei conhecimento com eles um certo... um certo, digamos, choque; como com Jim, por exemplo, e todas as vezes eu vi unicamente o ser humano. Este maldito carácter democrático da minha maneira de ver, que é talvez melhor do que uma cegueira total, nunca me trouxe proveito nenhum, podem crer. Os homens esperam que as suas roupas finas entrem em linha de conta. Mas nunca pude entusiasmar-me com coisas dessas. Oh! é uma falha: uma falha; e depois acontece que numa noite bonita se junta um grupo de homens a quem, por preguiça não apetece jogar o whist - e uma história...»
Deteve-se novamente à espera talvez de uma observação encorajadora mas ninguém falou; só o dono da casa murmurou, como se cumprisse um dever com relutância:
«Você é tão subtil, Marlow.»
«Quem? Eu?», disse Marlow em voz baixa. «Oh, não! Subtil era ele; e por mais esforços que faça para contar bem este caso, perco inumeráveis matizes - eram tão delicados, tão difíceis de dar com palavras descoloridas... Porque ele complicava as coisas pelo facto de ser tão simples - um pobre diabo tão simples... Caramba!, era uma pessoa epantosa. Ali estava ele sentado a dizer-me que, tão verdade como estar na minha frente, não tinha medo de enfrentar fosse o que fosse - e acreditava nisso.