«'Porque não se ri?', disse ele. 'Uma partida tramada no Inferno. Tinha o coração fraco... Às vezes desejaria ter também um coração fraco.'
«Essas palavras irritaram-me. 'Ah, sim?', exclamei com profunda ironia. 'Sim! Não é capaz de compreender?', exclamou. 'Não sei que outra coisa poderia você desejar', disse eu furioso. Olhou-me com ar de perfeita incompreensão. Esta seta também errara o alvo e ele não era homem para se preocupar com uma seta perdida. Palavra de honra que era demasiadamente ingénuo; não jogava um jogo franco. Eu sentia-me satisfeito por o meu projéctil se ter perdido - por ele nem sequer ter ouvido o zunir da corda do arco.
«Está claro que na altura ele não podia saber que o homem estava morto. O minuto seguinte - o seu último minuto a bordo -, - foi inteiramente ocupado por um tumulto de acontecimentos e de sensações que o açoitavam como a fúria do mar contra um rochedo. Eu utilizo esta imagem deliberadamente porque através da sua narrativa sou obrigado a crer que ele conservou no meio disto tudo uma estranha ilusão de passividade, como se não tivesse agido, mas consentido, em ser manejado pelos poderes infernais que o tinham escolhido para vítima das suas brincadeiras. A primeira coisa de que teve consciência foi do aumento repentino do ranger dos pesados lucros, que deram finalmente a volta, libertos - um estridor que pareceu passar do convés para o seu corpo, entrar-lhe pelos pés, atravessar-lhe a com una vertebral e sair pelo cocuruto da cabeça. Depois, como a nuvem anunciadora de tempestade estava já muito próxima, outra vaga mais forte ergueu o casco passivo e elevou-o a uma altura ameaçadora que lhe cortou a respiração, enquanto o cérebro e o coração eram traspassados ao mesmo tempo por gritos de pânico afiados como punhais.