Não estava disposto a correr semelhante risco. Não se esqueçam de que o tinha na minha frente e que ele era realmente muito semelhante a qualquer de nós para não ser perigoso. Mas não me importo de lhes dizer que, num olhar rápido, avaliei a distância até à massa de densa obscuridade que estava no meio do relvado em frente da varanda. Ele exagerava. Eu teria dado um salto muito mais torto - e isso era a única coisa de que estava razoavelmente certo.
«Chegara o seu último momento, assim pensava, e não se mexeu. Tinha os pés grudados as tábuas do chão e pensamentos indefinidos baralhavam-se-lhe no cérebro. Foi então que viu um dos homens a volta do salva-vidas dar um passo para trás, de repente abrir e fechar as mãos com os braços estendidos para cima, cambalear e cair. Não deu bem uma queda, apenas deslizou suavemente até ficar sentado todo corcovado e com as costas apoiadas contra um dos lados da clarabóia da casa das máquinas. 'Era o ajudante de fogueiro, um tipo magro com uma face pálida e um bigode eriçado. Desempenhava o papel de terceiro-maquinista', explicou.
«'Morto', disse eu. Tínhamos ouvido dizer qualquer coisa sobre isso no tribunal.
«Assim dizem', articulou com uma indiferença sombria. 'Está claro que nunca tive a certeza. Tinha o coração fraco. O homem vinha a queixar-se havia já algum tempo de que não estava bem. A excitação. O esgotamento. Quem sabe agora o que foi? Ah!, ah!, ah! Via-se bem que não queria morrer. É divertido, não é? Eu ia jurar que também lhe pregaram uma boa partida, que o empurraram para o suicídio. Pregaram-lhe uma partida, nem mais nem menos. Uma boa partida, por Deus!, como a mim... Ah! Se se tivesse deixado ficar quieto; se os tivesse mandado para o Diabo quando o foram arrancar ao seu beliche porque o barco se estava a afundar! Se se tivesse deixado ficar de lado com as mãos nos bolsos e a chamar-lhes nomes!'
«Levantou-se, sacudiu os punhos, fitou-me e sentou-se.