«O arrastar dos seus pés sob a mesa obrigou-me a interromper-me. Içou as pesadas pálpebras. Digo «içou» - nenhuma outra expressão pode descrever a firme deliberação desse acto -, e finalmente mostrou-se-me inteiro. Diante de mim estavam dois círculos cinzentos pequenos e estreitos como minúsculos anéis de aço à volta do negro profundo das pupilas. O olhar penetrante vindo daquele corpo maciço dava uma impressão de eficiência extrema como o gume de uma lâmina numa alabarda. 'Perdão', disse ele, muito formal. Levantou a mão direita e oscilou para a frente. Dê-me licença... Eu afirmei que uma pessoa pode continuar a viver sabendo muito bem que a sua coragem não vem sozinha. Não há aí motivo de preocupações. Uma verdade mais não deve tornar a vida impossível... Mas a honra - a honra, monsieur!... A honra... essa é real- real! E de que vale a vida se... - pôs-se de pé num ímpeto, pesadamente, como um boi espantado se levanta do prado -, 'quando o há honra - ha ça! par exemple - não digo nada. Não digo nada... que... monsieur... desconheço o assunto.'
«Eu também me levantara e estávamos de pé em face um do outro, muda tentar dar às nossas atitudes um tom de infinita cortesia, como dois cães de porcelana sobre a prateleira de uma chaminé. Maldito tipo! Desfizera a ilusão. A praga da futilidade que espreita os discursos dos homens quando eles falam caíra sobre a nossa conversa e transformara-a numa sucessão de sons vazios. 'Muito bem', disse eu com um sorriso embaraçado, ‘mas não se poderá reduzir o problema ao facto de ninguém o saber.' Pareceu ir responder com toda a prontidão, mas quando falou tinha mudado de ideia, 'Este assunto é demasiado subtil para mim, está muito acima das minhas possibilidades - nunca penso nele.