'Ninguém aqui', disse eu, 'sonharia sequer duvidar da sua palavra... ninguém ousaria, excepto você.
«Julgo que ela fez um ligeiro movimento ao ouvir estas palavras. 'Ê mais corajoso', prosseguiu ela num tom diferente. 'O medo nunca poderá afastá-lo de si', disse eu um pouco nervosamente. O canto acabou bruscamente numa nota aguda e foi seguido de várias vozes que falavam a distância. Ouviu-se também a voz de Jim. Fiquei surpreendido com o silêncio da jovem. 'Que é que ele lhe disse? Disse-lhe alguma coisa?', perguntei. Não deu resposta. 'Que foi que ele lhe disse?', insisti.
«'Julga que lho posso dizer? Como poderei saber? Como poderei compreender?', exclamou ela por fim. Fez um movimento; creio que torcia as mãos. 'Há qualquer coisa que ele nunca poderá esquecer.'
«'Tanto melhor para si', disse eu tristemente.
«'Que é? Que é?' Ela pôs uma força extraordinária no tom suplicante deste apelo. 'Ele diz que teve medo. Como posso acreditá-lo? Não sou louca para acreditar nisso! Todos vocês guardam uma recordação, para a qual voltam sempre. Que é? Diga-me. Que é essa coisa? Está viva... ou morta? Odeio-a. É cruel. Essa calamidade tem um rosto e uma voz? Será que ele a vê... ou a ouve? Talvez durante o sono, quando não me vê a mim... Então um dia levantar-se-á e partirá. Ah! Nunca lhe perdoarei. A minha mãe perdoou - mas eu, nunca! Será um sinal... um apelo?'
«Que cena extraordinária! Ela desconfiava até do sono de Jim, e julgava que eu lhe poderia dizer porquê! Seria assim que um pobre mortal, seduzido pelo encanto de uma aparição, teria tentado arrancar de outro espectro o tremendo segredo do poder que o Além possui sobre uma alma desencalhada, perdida no meio das paixões da Terra. O próprio chão parecia fugir-me debaixo dos pés.