«'E isso também não tinha importância', disse ele com o ar mais obstinado que possam imaginar.
«'Talvez não', admiti. Eu começava a achar que era de mais para mim. No fim de contas, que sabia eu?
«'Houvesse ou não monos, eu não podia fugir - tinha de viver, não tinha?'
«Bem - ter tinha, se toma as coisas por esse lado, resmunguei. «'Piquei satisfeito, está claro', atirou ele descuidadamente a pensar noutra coisa; 'A revelação', pronunciou devagar, levantando a cabeça. 'Quer saber qual foi o meu primeiro pensamento quando soube? Fiquei aliviado. Fiquei aliviado ao saber que aqueles gritos - cheguei a dizer-lhe que ouvi gritos? Não? Pois bem, ouvi-os. Gritos de socorro... trazidos pelo vento com o chuvisco. Foi imaginação, creio. E contudo quase não posso... Que estupidez... Os outros não os ouviram. Perguntei-lhes mais tarde. Todos disseram que não. Não? E eu ainda os estava a ouvir! Eu devia ter compreendido - mas não reflecti, só me pus a ouvir. Gritos muito abafados. Dia após dia. Depois o mestiço baixinho veio ter connosco e falou-me: «O Patna… uma canhoneira da marinha de guerra francesa... rebocou-o até Adém… Investigação... Ministério da Marinha... A Casa do Marinheiro... tudo arranjado para a sua instalação!» Fui com ele e apreciei o silêncio. Não tinha então havido gritos. Foi imaginação. Tive de o acreditar. Deixei de os ouvir. Pergunto a mim mesmo quanto tempo os teria podido suportar. A coisa estava a piorar.