Lord Jim - Cap. 21: Capítulo XX Pág. 213 / 434

‘Na sua Londres só há um exemplar destes, só um! Vou legar este à minha pequena cidade natal. Um pouco de mim. O melhor.’

«Inclinou-se na cadeira e olhou atentamente para a vitrina com o queixo apoiado no vidro da tampa. Eu ficara de pé atrás dele. Murmurou: 'Maravilhosa', e parecia ter esquecido a minha presença. A história deste homem era curiosa. Nascera na Baviera e tomara parte, aos vinte e dois anos. no movimento revolucionário de 1848. Gravemente comprometido nestes acontecimentos, fugiu e encontrou um primeiro asilo em casa de um pobre relojoeiro republicano de Trieste. Dali passou a Trípolis com um carregamento de relógios baratos. Não eram uns inícios muito brilhantes, mas teve sorte, porque ali encontrou um viajante holandês, um homem bastante célebre cujo nome não me ocorre agora. Foi esse naturalista que o contratou como assistente ou coisa parecida e o levou para o Oriente. Viajaram umas vezes juntos, outras separados, durante quatro anos, no arquipélago indiano à procura de pássaros e de insectos. Depois o naturalista voltou para o seu país, e Stein, não tendo país para onde voltar, ficou com um velho comerciante que encontrara no decurso das suas viagens no interior das Celebes, se é que se pode falar de um interior das Celebes. Este comerciante, um velho escocês, era o único estrangeiro autorizado a viver no país nessa altura e amigo íntimo da mulher que governava nessa época os estados Wajo. Ouvi muitas vezes Stein contar como aquele homem ligeiramente paralisado de um lado o apresentou na corte indígena pouco tempo antes de ser levado por um novo ataque. Era um homem quadrado, com uma barba branca de patriarca e de estatura avantajada. Entrou na sala do conselho onde os rajás, os panjerãs e outros chefes estavam já reunidos com a rainha, uma mulher gorda, toda cheia de rugas (e muito livre de linguagem, dizia Stein), reclinada num divã alto com baldaquino.





Os capítulos deste livro