«A sombra da separação eminente já interpusera entre nós um espaço enorme, e quando falávamos era como se forçássemos as nossas vozes baixas a transpor uma distância, imensa e crescente. O barco voava literalmente; nós abafávamos lado a lado no ar parado e super aquecido; o cheiro de lama e de lodo, o cheiro primitivo da terra fecunda, parecia picar-nos a cara; até que, de repente, numa curva do rio, foi como se, muito longe, uma enorme mão tivesse corrido uma pesada cortina e aberto de par em par um pórtico gigantesco. A própria luz parecia mover-se, o céu alargava-se por cima das nossas cabeças, um murmúrio longínquo chegava aos nossos ouvidos; uma frescura envolvia-nos, enchia-nos os pulmões, acelerava os nossos pensamentos, o nosso sangue, a nossa saudade - e, sempre em frente, as, florestas afundavam-se na orla azul-escura do mar.
«Eu respirava, profundamente, fruía a vastidão do horizonte aberto, a nova atmosfera que parecia vibrar com a azáfama da vida, com a energia de um mundo impecável. Este céu e este mar abriam-se para mim. A jovem tinha razão, havia nele um sinal, um apelo qualquer, ao qual eu respondia com todas as fibras do meu ser. Deixei que os meus olhos errassem pelo espaço, como um homem liberto de laços, que estira os membros doloridos, corre, salta, obedece à exaltação inebriante da liberdade. 'É magnífico!', exclamei, e depois olhei para o infeliz pecador sentado a meu lado. Com a cabeça pendida sobre o peito, ele disse: 'Sim', sem levantar os olhos, como se receasse ver escrita em grandes letras no céu ao largo, uma censura à sua consciência romântica.