«Ainda recordo os mínimos pormenores dessa tarde. Desembarcámos numa faixa de areia branca, enquadrada por uma falésia baixa e encimada por um bosque coberto até ao sopé por trepadeiras. Abaixo de nós estendia-se o plaina marítimo, de um azul intenso e sereno, que se elevava suavemente até ao horizonte, esticado com um fio, à altura dos nossos olhos. Grandes ondas de luz passavam ao de leve sobre a superfície sombria, rápidas como penas levadas pela brisa. Em frente do estuário estendia-se um cordão maciço de ilhas assente sobre uma toalha de água de um verde pálido que reflectia fielmente os contornos da costa. Lá no alto do céu, branco de luz, planava um pássaro solitário, todo negro, que mergulhava e se elevava nos ares sempre por cima do mesmo ponto; com um ligeiro bater de asas. Um grupo miserável de frágeis choças de palha enegrecida empoleirava-se, por cima da sua própria imagem invertida, em estacas torcidas, cor de ébano. Uma minúscula canoa preta saiu do meio delas com dois homens minúsculos, também pretos, que se esforçavam arduamente por cortar a água pálida; a canoa parecia deslizar penosamente sobre um espelho. Este punhado de choças miseráveis era a aldeia de pescadores que se orgulhava da protecção especial do senhor branco, e os dois homens da canoa eram o chefe e o genro. Desembarcaram e vieram ter connosco por sobre a areia branca, magros e escuros como se tivessem sido fumados, com sinais cor de cinza nos ombros e peitos nus. Tinham nas cabeças lenços sujos cuidadosamente enrolados, e o velho começou logo a apresentar uma queixa, volúvel, estendendo um braço magro e fixando em Jim o olhar confiante dos velhos olhos remelosos. Os homens do rajá não queriam deixá-los em paz; houvera aborrecimentos por causa de uns ovos de tartaruga que a sua gente apanhara nas ilha tas lá em baixo - e, apoiado no remo a todo o comprimento do braço, apontava para o mar com uma mão ossuda e morena.