Lord Jim - Cap. 7: Capítulo VI Pág. 80 / 434

Tinha sido franco consigo próprio e ainda mais comigo - com a louca esperança de chegar por esse caminho a uma refutação efectiva, e os astros tinham-se mostrado ironicamente desfavoráveis. Fez um ruído indistinto com a garganta, como um homem meio atordoado por uma pancada na cabeça. Inspirava compaixão.

«Só o apanhei outra vez já bastante longe do pardo Tive de dar à perna nos últimos metros, mas, quando, já junto dele, esbaforido, o acusei de querer fugir, disse-me: 'Nunca, e imediatamente se voltou, pronto a atacar como um animal acossado. Expliquei-lhe que nunca quisera dizer que ele fugia de mim. 'Não fujo de homem nenhum - nem de um só homem no mundo', afirmou ele com uma expressão obstinada, Abstive-me de falar na única excepção óbvia diante da qual fugiriam os mais corajosos de entre nós. Pensei que depressa ele a descobriria. Esteve a olhar para mim pacientemente, enquanto eu procurava algo para dizer, mas não pude encontrar nada assim de repente, e ele começou a andar. Eu não desisti e, ansioso por o não perder, disse precipitadamente que não podia suportar a ideia de o deixar sob a falsa impressão da minha... da minha - comecei a gaguejar. A estupidez da frase horrorizava-me enquanto tentava acabá-la, mas o poder das frases não tem nada que ver com o seu sentido ou com a lógica da sua construção. O meu resmungar idiota pareceu agradar-lhe. Interrompeu-o, dizendo com uma serenidade cortês que revelava um imenso domínio de si próprio ou então uma extraordinária elasticidade de espírito: 'Foi inteiramente culpa minha. Esta expressão deixou-me espantado: parecia que estava a referir-se a um acontecimento sem importância. Não teria ele percebido o seu deplorável sentido? 'Bem pode desculpar-me disse, e recomeçou a andar um pouco mal-humorado.





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