Lord Jim - Cap. 3: Capitulo II Pág. 12 / 434

Capitulo II

Após um treino de dois anos, embarcou, e ao entrar nas regiões que a sua imaginação tão bem conhecia achou-as estranhamente pobres de aventuras. Fez muitas viagens. Conheceu a mágica monotonia de uma existência passada entre o céu e o mar: teve de suportar as censuras dos homens, as exigências do mar e o rigor prosaico do trabalho diário que dá o pão mas cuja única recompensa se encontra no amor total pelo que se faz. Esta recompensa esquivava-se. Contudo, não podia voltar atrás, porque não há nada mais aliciante, nem mais deceptivo, nem mais escravizado r, do que a vida no mar. Além disso, as suas perspectivas de futuro eram boas. Era pessoa de educação, calmo, afável, e tinha um perfeito conhecimento dos seus deveres; e no seu devido tempo, embora ainda fosse muito novo, foi nomeado para o posto de imediato de um belo navio, sem nunca ter passado por aqueles acontecimentos que na vida marítima expõem à luz do dia o autêntico valor de um homem, a qualidade da sua têmpera e a fibra do seu carácter; que revelam o seu grau de resistência e a verdade secreta das suas veleidades, não só aos olhos dos outros, mas aos seus próprios.

Apenas uma única vez durante todo este tempo ele teve ocasião de voltar a entrever a gravidade da fúria do mar. Esta não transparece tão facilmente como muita gente julga. Há muitas graduações nos perigos, nas aventuras e nas tempestades, e só de quando em quando se pode ver claramente nos factos a violência sinistra das intenções - aquele indefinido não sei quê que imprime no espírito e no coração de um homem a noção de que este enredamento dos acidentes ou de que estes furores dos elementos vêm ao seu encontro com um propósito maligno, com uma força impossível de controlar,





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