Lord Jim - Cap. 12: Capítulo XI Pág. 136 / 434

Há uma tão magnificente imprecisão nas esperanças que nos empurraram a cada um de nós para o mar, uma tão gloriosa incerteza, uma tão bela avidez de aventuras, que têm como recompensa apenas elas próprias! Aquilo que acabamos por receber... Bem, não falemos disso; mas poderá qualquer de nós impedir-se de sorrir? Em nenhum outro género de vida está a ilusão mais afastada da realidade... em nenhum outro é o começo uma ilusão tão perfeita... em nenhum é o desencante mais rápido... a subjugação mais completa. Não começamos nós todos core o mesmo desejo, não acabamos com a mesma experiência não carregamos nós com a lembrança do mesmo amado deslumbramento, através dos dias sórdidos de maldição? Que admira então se, quando uma forte aguilhoada nos atinge em cheio, achamos o laço demasiado apertado? Que admira se, para além da camaradagem do ofício, se sente a força de um sentimento mais vasto - o sentimento que liga um homem a uma criança? Ali estava ele na minha frente e acreditava que a idade e a experiência podem encontrar remédio contra o tormento da verdade, deixando-se entrever como um jovem enredado numa dificuldade diabólica, o género de dificuldade diante da qual os velhos respeitáveis meneiam a cabeça solenemente, enquanto escondem um sorriso. E ele estivera a decidir sobre a morte - diabos o levem! Encontrara esse tema de meditação porque pensava que tinha salvo a vida enquanto todo o encanto dela se perdera na noite, com o barco Que há de mais natural? Era suficientemente trágico e suficientemente cómico, certamente, para clamar compaixão, e em que era eu melhor de que os outros para lhe recusar a minha piedade? E enquanto olhava ainda para ele os rasgões no nevoeiro fecharam-se, e a sua voz fez-se ouvir:

«Sentia-me tão perdido, sabe? Era o género de coisa que nunca se pensa que nos possa acontecer.





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