Lord Jim - Cap. 16: Capítulo XV Pág. 179 / 434

Capítulo XV

«Não pude lançar-me imediatamente à procura de Jim porque tinha, com efeito, um encontro marcado a que não podia faltar. Depois, por azar, fui apanhado por um tipo recém-chegado de Madagáscar que não me largou com o projecto de um negócio maravilhoso. Tratava-se de gado e de cartuchos e de um príncipe Ravonalo não sei quê; mas o eixo de todo o negócio era a estupidez de um almirante - do almirante Pierre, creio. Tudo girava à volta disto, e o tipo não encontrava palavras bastantes para exprimir a sua confiança. Tinha uns olhos redondos, esbugalhados, com um brilho vítreo, bossas na testa, e usava o cabelo penteado para trás, sem risca. Repetia sem cessar uma frase favorita num tom de triunfo: 'A minha divisa é: o mínimo de risco e o máximo de proveito, percebe?' Provocou-me ama dor de cabeça, estragou-me a refeição, a mim, mas extorquiu-me a dele; e tão depressa lhe pude fugir fui correr ao porto. Vi Jim debruçado no paredão. Três barqueiros indígenas, a discutirem por causa de cinco faziam um barulho ensurdecedor mesmo ao seu lado. Não me ouviu aproximar, mas rodou rápido quando lhe toquei ligeiramente, como se se tivesse desprendido uma mola. 'Estava a olhar', balbuciou. Não me lembro do que lhe disse, certamente não foi grande coisa, mas não teve dificuldade em me acompanhar ao hotel.

«Seguiu-me docilmente, como uma criança, com um ar obediente, sem protestar, como se tivesse estado à espera que eu aparecesse para o ir buscar. ':u não devia ter-me admirado tanto daquela docilidade como me admirei. Ele não tinha em toda a superfície da Terra, que uns acham tão grande e outros parecem achar mais pequena do que um grão de mostarda, um único sítio para onde pudesse - como direi? -, para onde pudesse retirar-me.





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