Lord Jim - Cap. 17: Capítulo XVI Pág. 185 / 434

Mas não consigo fixar a imagem da sua salvação autêntica. Recordo-o sempre tal como o vi através daquela porta aberta, no meu quarto, a levar talvez demasiadamente a sério as consequenciais da sua fraqueza. Sinto-me contente, está claro, por os meus esforços lhe terem proporcionado um bem e mesmo um pouco de glória; mas às vezes parece-me que teria sido melhor para a paz do meu espírito que não me tivesse interposto entre ele e a maldita e generosa oferta de Chester. Pergunto a mim mesmo que teria ele feito se tivesse ido para a ilhota de Walpole, a migalha de terra mais abandonada e mais deserta que existe na superfície das águas. É bem provável que nunca o chegasse a saber, porque devo dizer-lhes que Chester, depois de ter feito escala num porto qualquer da Austrália para fazer reparações no seu anacrónico brigue, navegou para o Pacífico com uma tripulação de vinte e dois homens apenas, e as únicas notícias que talvez digam respeito ao mistério do seu desaparecimento foram as de um furacão que mais ou menos um mês depois varreu, parece, o banco de Walpole. Nunca se encontrou o menor vestígio dos argonautas; nem um som saiu do espaço solitário. Finis! O Pacífico é o mais discreto de todos os oceanos vivos e impetuosos; o gélido Antárctico sabe também guardar um segredo, mas mais à maneira de um túmulo.

«E há também nessa discrição um sentimento bendito de repouso que é aquele que nós estamos mais preparados para receber. Pois que outra coisa tornaria suportável a ideia da morte? O fim! Finis! é a palavra que tem força para expulsar a sombra do destino da casa da vida. Isto é o que eu lastimo quando recordo o êxito de Jim, apesar do que viram os meus olhos e das suas veementes afirmações. É verdade que enquanto há vida há esperança, mas há também medo.





Os capítulos deste livro