Lord Jim - Cap. 4: Capítulo III Pág. 29 / 434

Depois levantaram os olhos para as estrelas.

Que acontecera? O golpear resfolegante das máquinas continuava a ouvir-se. Ter-se-ia atravessado qualquer obstáculo na trajectória do mundo? Não podiam compreender; e de repente o mar sereno, o céu sem nuvens, surgiram tremendos na insegurança da sua imobilidade, como que suspensos na beira de um sorvedouro de destruição. O corpo do maquinista deu um salto de ricochete, ficou um momento perfeitamente vertical, e voltou a cair num monte confuso. O monte disse: «Que é isto?», com o timbre surdo de uma mágoa profunda. Um ruído indistinto como de um trovão, de um trovão infinitamente remoto, que não chegava a ser um som, apenas um pouco mais audível do que uma vibração, passou lentamente, e o barco, em resposta, estremeceu, como se o trovão tivesse rugido nas profundezas das águas. Os olhos dos dois malaios, ao leme, brilharam voltados para os homens brancos, mas as mãos escuras continuaram fechadas sobre os raios da roda. O casco pontiagudo, a avançar no seu caminho, erguia-se algumas polegadas, palmo a palmo, a todo o comprimento, como se se tivesse tornado flexível, e voltava a baixar, rígido, para continuar a sua tarefa de fender a superfície polida do mar. Parou de estremecer, e o ligeiro ruído de trovão deixou imediatamente de se ouvir, como se o navio tivesse navegado através de uma tira estreita de água vibrátil e de ar sonoro.





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