Eu podia beber fogo líquido, à compita com o senhor a beber o seu whisky, caramba!, e ficava fresco como uma alface. Se eu sonhasse que estava bêbado, atirava-me pela borda fora - acabava comigo, juro. Acabava mesmo. E já. E não saio da ponte. Onde quer que eu vá tomar o fresco numa noite como esta, hem? Para o convés lá em baixo, no meio daqueles piolhosos? Está-se mesmo a ver - não está? Não tenho medo nenhum de si.»
O alemão levantou dois pulsos vigorosos para o céu e sacudiu-os sem dizer palavra.
«Eu não sei o que é o medo», continuou o segundo-maquinista com o entusiasmo de uma convicção sincera. «Não me assusta o maldito trabalho que dá esta casca de noz podre, caramba! E é uma grande sorte para si que haja no mundo gente como eu, destemida, ou então onde é que iam parar o senhor e esta sucata toda enferrujada - toda enferrujada, pela minha salvação? Para si está certo - o senhor safa-se sempre e arrecada uma boa maquia de uma maneira ou de outra; mas, e eu - que lucro eu? Cento e cinquenta miseráveis dólares por mês, e passe muito bem. Eu queria perguntar-lhe respeitosamente - repare que digo 'respeitosamente' -: quem é que não largava um ofício tão desgraçado como este? Isto não é seguro, pela minha salvação, sei que não é... Mas eu sou um daqueles tipos que não temem nada...»
Largou os varões e começou a fazer gestos largos como para desenhar no ar a figura e a extensão da sua coragem; lançava o seu fiozinho de voz em guinchos agudos que caíam sobre o mar, e andava em bicos de pés para diante e para trás, para dar mais ênfase às expressões, e de repente mergulhou de cabeça para baixo, como se lhe tivessem dado uma cacetada por detrás. Exclamou «Raio!» ao dar a cambalhota; a este grito seguiu-se um instante de silêncio; Jim e o capitão deram ambos, num cambaleio um passo para a frente e recompuseram-se; e ficaram de pé, muito tesos, a fitar, espantados, a serena horizontalidade do mar.