Lord Jim - Cap. 35: Capítulo XXXIV Pág. 339 / 434

Ele é assim. Mas suponha que podia. Pois bem, que importa? Não foi para salvar a vida que vim para cá, não é verdade? Vim para lutar e vou ficar aqui...'

«'Até estar completamente satisfeito', interrompi-o.

«Estávamos sentados sob uma tenda colocada na popa do barco de Jim; vinte remos brilhavam como um só, dez de cada lado, e cortavam a água em uníssono, enquanto nas nossas costas Tamb' Itam manobrava placidamente o leme para a esquerda e para a direita e olhava em frente, atento a que a longa canoa se mantivesse na maior força da corrente. Jim baixou a cabeça, e a nossa última conversa pareceu extinguir-se para sempre. Ele ia levar-me à embocadura do rio. A escuna, que partira no dia anterior, descia levada pela vazante, enquanto eu prolongara a minha estada por mais uma noite. E agora ele ia despedir-se de mim.

«Jim ficara um pouco irritado comigo por me ouvir falar de Cornélio, Na verdade, eu não dissera muita coisa. O homem era demasiado insignificante para ser perigoso, embora estivesse a estoirar de ódio. Chamara-me 'ilustre senhor' a cada instante e lamentara-se a meu lado, enquanto me seguia da sepultura da sua 'defunta mulher' até ao portão do cercado de Jim. Declarava-se o mais infeliz dos homens, uma vítima esmagada como um verme; rogava-me que olhasse para ele. Eu não queria voltar a cabeça, mas pelo canto do olho podia ver a sua sombra obsequiosa deslizar atrás da minha, enquanto a Lua, suspensa à nossa direita, parecia olhar a cena com serena malícia. Como já lhes disse, tentou explicar o papel que desempenhara nos acontecimentos daquela noite memorável. Era uma questão de oportunidade Como podia saber quem sairia vencedor? 'Eu tê-lo-ia salvo, ilustre senhor! Tê-lo-ia salvo por oitenta dólares', protestava ele num tom delico-doce enquanto me seguia apressadamente a pequena distância.





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