Capítulo 35: Capítulo XXXIV
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'Ele salvou-se a si mesmo', disse eu, 'e já lhe perdoou.' Ouvi uma espécie de riso abafado e voltei-me para ele, que logo me pareceu pronto a dar às de vila-diogo. 'De que se está a rir?', perguntei-lhe, parando de repente. 'Não se deixe enganar, ilustre senhor!', gritou. Parecia ter perdido todo o domínio dos sentimentos. 'Ele salvou-se a si mesmo! Ele não sabe nada, ilustre senhor, nada de nada. Quem é ele? Que é que ele quer daqui, o grande ladrão? Que é que ele quer daqui? Atira poeira aos olhos de toda a gente; atira poeira aos seus olhos, ilustre senhor; mas aos meus é que ele não atira. É um grande idiota, ilustre senhor.' Pus-me a rir com desprezo e dei meia volta para seguir o meu caminho. Cornélio correu para o meu lado e murmurou energicamente: 'Ele aqui não é mais do que uma criança... uma criança... uma criancinha.' É claro que não lhe prestei a mínima atenção, e, como visse que o tempo urgia, porque nos aproximávamos da sebe de bambu que luzia por cima da terra enegrecida da clareira, ele deixou-se de rodeios. Começou por se mostrar abjectamente lacrimoso. As suas grandes desgraças tinham-lhe afectado a cabeça. Esperava que a minha bondade me fizesse esquecer as coisas que só as suas misérias o faziam dizer. Ele não queria dizer nada de especial: só que o ilustre senhor não sabia o que era ter sido arruinado, arrasado, calcado aos pés. Depois desta introdução, aproximou-se do nó do problema, mas de uma maneira tão tortuosa, descosida e cobarde que, durante muito tempo, não pude descobrir onde é que ele pretendia chegar. Queria que eu intercedesse a seu favor junto de Jim. Parecia ser também uma questão de dinheiro. Ouvi-o repetir amiúde as palavras ‘uma modesta soma... um presente adequado’. Parecia avaliar uma reparação e chegou ao ponto de dizer com ardor que a vida não valia a pena ser vivida para um homem despojado de tudo.
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Páginas: 434
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