Lord Jim - Cap. 10: Capítulo IX Pág. 115 / 434

‘Arreia! Pelo amor de Deus, arreia! Arreia! Está a afundar-se.’ A seguir os tiradores da talha do salva-vidas - enterram os moitões, e um grupo de homens começaram a falar num tom de alarme, debaixo dos toldos. 'Quando aqueles patifes romperam a gritar, uivos que davam e chegavam para acordar os mortos', disse ele. Depois veio o choque formidável do salva-vidas literalmente atirado à água, ouviram-se os ruídos surdos dos pés dos homens dentro dele aos encontrões, misturados com gritos confusos: 'Solta! Solta! Afasta! Solta! Rema para fora, pela tua saúde! A tempestade vai cair sobre nós... Ouviu, nas alturas, ligeiro sussurrar do vento; e abaixo dos pés um grito de dor. Uma voz perdida começou a praguejar contra um tornei, à proa e à ré começou s levantar-se um rumor como o de uma colmeia em revolução e com a mesma tranquilidade com que me estava a contar isto - porque nesse moimento tomara uma atitude muito tranquila, com o rosto e a voz calmas - disse-me à queima-roupa: 'Tropecei nas pernas dele.'

«Foi assim que eu percebi que naquele momento já tinha começado a andar, Não pude reprimir uma exclamação abafada de surpresa. Qualquer coisa o obrigara a pôr-se finalmente em movimento, mas desconhecia tão completamente o momento exacto e a causa que o arrancaram à sua imobilidade como a árvore arrancada pelas raízes desconhece o vento que a derrubou. Tudo surgia agora real diante dele: os ruídos, as imagens, as pernas daquele homem morto - caramba! Aquela brincadeira infernal estava-lhe a ser metida à força pela goela abaixo, com todos os diabos, mas - notem - aquela não engolia ele. Era extraordinária a maneira como conseguia fazer partilhar aos outros a sua ilusão. Ouvia-o como se me estivesse a contar uma história de magia negra com um cadáver.





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