Lord Jim - Cap. 11: Capítulo X Pág. 126 / 434

Porque o teria feito? E como havia de saber que... , com todos os diabos!, não conseguira eu entrar naquele salva-vidas?; naquele salva-vidas - eu .. .' Os músculos à volta dos seus lábios contraíram-se num trejeito involuntário que sulcou a máscara da sua expressão habitual- qualquer coisa de violento, de fugaz, um clarão como o serpentear do raio que permite à vista penetrar um instante nas secretas circunvoluções de uma nuvem. 'Eu fizera-o. Eu estava ali, com eles - não estava? Não é horrível que um homem seja levado a fazer uma coisa destas - e que seja responsável? Que sabia eu do George por causa de quem davam aqueles urros? Lembrei-me então de que o vira todo enrolado sobre si mesmo, no convés. «Cobarde assassino!», continuava o maquinista-chefe a chamar-me. Parecia ser incapaz de se recordar de outras palavras. A mim não me ralava, mas o barulho que fazia começou a incomodar-me. «Cale-se», disse eu. Em resposta, reuniu as forças todas para guinchar como um raio. «Matou-o. Matou-o.» «Não», gritei, «mas mato-o a si não tarda nada.» Levantei-me de um salto e ele caiu para trás sobre um banco com um baque sonoro. Não sei porquê. A escuridão era completa. Teria tentado dar um passo para trás, suponho eu. Eu fiquei de pé, voltado para a ré, e o patife do segundo-maquinista, o pequenino, começou a choramingar: «Não vai bater num tipo que tem um braço partido - porque é um cavalheiro!» Ouvi um passo pesado... um... dois... e um grunhir ofegante. O outro animal vinha para mim, batia com o remo que tinha na mão na borda. Vi-o mover-se, enorme, enorme - como um homem no meio do nevoeiro ou num sonho. «Venha cá!», gritei. Tê-lo-ia derrubado como um fardo de palha. Parou, falou entre dentes e voltou para trás. Talvez tivesse ouvido o vento.




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