Lord Jim - Cap. 13: Capítulo XII Pág. 144 / 434

Era óbvio e consolador. O facto previsto cumprindo-se tão rapidamente justificava a pressa que tinham tido. Não ira que não se tivessem preocupado com procurar outra explicação. No entanto, a explicação verdadeira era muito simples, e logo que Brierly a sugeriu o tribunal deixou de se preocupar com esse assunto. Se estão lembrados, tinham parado o barco, e este estava com a proa voltada na direcção em que tinha navegado durante a noite, com a popa inclinada para cima e a proa debaixo de água, por causa da inundação no compartimento da frente do porão. Estando assim em desequilíbrio, quando a tempestade o atingiu um pouco na alheta, oscilou, voltado para o vento, tão fortemente como se estivesse ancorado. Por causa desta mudança na sua posição, todas as luzes nele desapareceram em poucos momentos da vista do salva-vidas, que estava a sotavento. E pode muito bem ser que, se as tivessem continuado a ver elas os chamassem com um apelo mudo - que o seu brilho, perdido na escuridão da nuvem de tempestade, possuísse o poder misterioso do olhar humano capaz de acordar sentimentos de remorso e de piedade.

Teria dito: 'Estou aqui - ainda estou aqui'... E que mais pode dizer o olhar do mais desamparado dos humanos? Mas o barco virara-lhes as costas com um sinal de desprezo pelo seu destino; dera uma volta, carregado, para fitar teimosamente o novo perigo do mar a que tão estranhamente sobreviveu para ir acabar os seus dias na sucata, como se estivesse escrito no livro do seu destino que tinha de morrer obscuramente sob os golpes dos martelos. Ignoro qual o desfecho que o seu destino preparou às vidas dos peregrinos: o futuro imediato trouxe-lhes, por volta das nove horas da manhã seguinte uma canhoneira francesa que regressava da Reunião.





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